O conselho municipal de políticas públicas
é canal efetivo de participação, que permite estabelecer
uma sociedade na qual a cidadania deixe de ser apenas um direito, mas uma realidade.
A campanha
#ocupeosconselhosmunicipais, lançada nas redes sociais, traz para
o centro do debate a instância primeira, a base de sustentação da participação social, que são os conselhos de políticas
públicas dos
municípios.
Ocupar significa aqui participar das decisões em prol do interesse
popular e social, como está assegurado em nossa Constituição
Federal de 1988. Exercer o parágrafo único do Art° 1, que proclama
que “Todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição”.
O fortalecimento e o aperfeiçoamento
destes mecanismos nas cidades, por meio de ações decorrentes da Política
Nacional de Participação Social (PNPS)
são condições inexoráveis para a sua consolidação. Não há Conselho Nacional que
prescinda da sua base, e mesmo com grandes dificuldades, todos os conselhos
desenvolvem campanhas e ações para a criação, melhor funcionamento e
efetividade das suas instâncias municipais.
Com caráter nacional, a campanha
#ocupeosconselhosmunicipais deve ocorrer no município envolvendo os conselhos
existentes, entidades da sociedade civil, e o poder público (Prefeitura, Câmara
de Vereadores, Ministério Público Municipal e seus procuradores no município).
Assim a sociedade civil pode se apropriar de seus direitos por meio da participação
direta.
Mas,
afinal, o que são os conselhos municipais? Esta é uma pergunta cuja resposta se
torna essencial diante da atual controvérsia acerca da PNPS.
Para responder o questionamento apresentado no título, trazemos a definição de
conselhos do Portal da
Transparência: “Os
conselhos gestores de políticas públicas são canais efetivos de participação,
que permitem estabelecer uma sociedade na qual a cidadania deixe de ser apenas
um direito, mas uma realidade. A importância dos conselhos está no seu papel de
fortalecimento da participação democrática da população na formulação e
implementação de políticas públicas”.
Infelizmente,
os conselhos municipais ou conselhos gestores de políticas públicas e a
participação social encontram-se invisíveis para grande parte da população, em
especial da juventude, apesar do seu alcance, capilaridade e, sobretudo,
pertinência na formulação e controle da execução das políticas públicas
setoriais.
Neste cenário (já em 1999 o Brasil contava com 26,9 mil Conselhos
Municipais, segundo o IBGE),
os desafios postos para a juventude são especialmente substanciais,
considerando que menos de 6% dos municípios brasileiros possuem conselhos da
juventude.
A criação, ocupação e consolidação de tais espaços seria um
encaminhamento assaz pertinente às demandas levadas às ruas pelos jovens
durante as “jornadas de
junho”, dado o seu caráter dialógico entre poder público e
sociedade civil.
Dados do IBGE
(2012) demonstram que
conselhos municipais como os de Saúde, Assistência
Social e de Direitos da
Criança e Adolescente existem
e estão em pleno funcionamento em 99% das cidades brasileiras. Os Conselhos de
Direitos da Pessoa Idosa, de Cultura e de Meio Ambiente estão presentes em mais de 50% de nossos municípios; outros como de Segurança Alimentar, de Direitos da Pessoa com Deficiência e de Direitos da Mulher são criados num ritmo crescente e já
ultrapassa 30% de municípios alcançados, o que evidencia a abrangência e o
potencial destas instâncias de participação.
Conhecer
este instrumento é fundamental para viabilizar a participação da sociedade.
Assim como reconhecer que ser conselheiro é exercer o protagonismo do processo
de consolidação da democracia em nosso país. É vivenciar plenamente a
cidadania. É cuidar de nossas cidades para ser mais bem
cuidado por elas. Um dado positivo é o de que o número de conselhos é
crescente.
Porém, este fato por si só não necessariamente se traduz em mais participação social. Os conselhos
sofrem de uma doença crônica de invisibilidade e falta de recursos (humanos,
orçamentários, de infraestrutura). Também são afetados pelos vícios e equívocos
da democracia representativa, além de existirem casos de interferência política
de administrações municipais que cooptam e instrumentalizam tais espaços, prejudicando
a sua efetividade e comprometendo a sua autonomia.
Falta publicizar informações
sobre o tema, então falta participação. Por isso o desafio de evidenciar os
conselhos municipais, esfera mais próxima
do/a cidadão/ã, é fundamental para o amadurecimento da participação social e
popular.
Os
conselhos municipais são espaços poderosos, estão relacionados a todas as
esferas de poder e a uma diversidade de temáticas. O legislativo, as Câmaras
Municipais, acompanham e influenciam diretamente suas dinâmicas e ações. O
poder judiciário, principalmente na figura do Ministério Público e seus agentes
municipais é parceiro em diversas ações visando à garantia dos direitos de toda
população.
Por fim, o executivo é sempre integrante dos conselhos municipais,
pois a função essencial desta instância é exercer o controle social das
atividades da Prefeitura. “É
preciso dar vida aos conselhos, colocar neles os melhores quadros políticos e
as mais fortes entidades sociais, estabelecer uma agenda de
diálogo permanente com a população, abrir todos os dados e informações
governamentais, e, principalmente, permitir-se ao aprendizado, à mudança, ao
convencimento democrático”. Ressalta a ex-secretária de
Participação Social de Caruaru-PE, Louise
Caroline.
Quando a sociedade civil ocupa os conselhos, descobre que
se a merenda escolar não está boa é possível recorrer ao Conselho de
Alimentação Escolar (CAE).
Percebe que se existe uma violação do meio ambiente, é possível recorrer ao Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMMA). Que se existe
interesse em contribuir com as políticas culturais, temos o Conselho Municipal
de Política Cultural (CMPC).
E ainda existem o Conselho de Saúde, Educação, Segurança Alimentar e Nutricional, Economia Solidária, dentre inúmeros outros. Espaços institucionalizados
da construção, debate e monitoramento de políticas públicas setoriais, todos
esperando por nossa participação, nossos sonhos, nossas ideias.
O
aperfeiçoamento dos conselhos passa pela garantia de sua autonomia
administrativa e financeira, pela efetiva participação da sociedade civil em
sua gestão, e por sua ocupação sistemática por parte da população a fim de
assegurar a sua descentralização, o amplo conhecimento de suas funções e
objetivos, além de sua intervenção eficaz. “Disputar
não apenas a qualidade dos serviços públicos no dia a dia da população, mas o
exercício democrático por direitos e cidadania. Disputar a legitimidade dos
sujeitos representados e a diversidade de direitos seja do campo ou da
cidade. Desconstruir o senso comum que prevalece nos setores
conservadores, que em períodos de crise financeira sugerem cortar políticas
sociais, por concebê-las como gastos e não investimento. Políticas sociais
geram empregos, dinamizam a economia local, interiorizam o desenvolvimento por meio das ações do Estado“, afirma Maria do Socorro, Presidente do Conselho Nacional de
Saúde. Desta forma, o desafio para a sociedade civil é o de
fortalecer a sua participação para fortalecer os conselhos.
Por
tudo isso, #ocupeosconselhosmunicipais.